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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pornografia celebra violência contra mulher, diz socióloga



A internet, o crescimento da indústria pornográfica e o marketing que ela promove são, na opinião da socióloga americana Gail Dines, os responsáveis por boa parte dos episódios de violência contra mulheres.

Em seu último livro, "Pornland" (Pornolândia), lançado recentemente nos EUA, Gail afirma que a multiplicação de imagens pornográficas na internet aumentou o poder dessa indústria:

- A indústria pornô tem capacidade de fazer lobby com políticos, de travar batalhas legais e de usar relações públicas para influenciar o debate. (...) Sua sofisticada e bem financiada máquina de marketing busca moldar a imagem dessa indústria como algo positivo.

Na avaliação da feminista e professora de sociologia e de gênero na Faculdade Wheelock, em Boston, é impossível ver as imagens pornográficas sem ser influenciado, "especialmente imagens com as quais você se masturba":

- Os garotos veem pornografia pela primeira vez aos 11 anos, eles são introduzidos a esse mundo de brutalidade sexual e crueldade antes que sua sexualidade esteja plenamente desenvolvida.

Ela ainda defende a necessidade de um "contra-ataque erótico à cultura pornô". "O erotismo, ao contrário do pornô, celebra uma sexualidade igualitária e respeitadora, baseada em conexão e paixão", diferencia.

Leia a entrevista.

Terra Magazine - Pornografia era tabu e até mesmo proibida até pouco tempo. Como isso mudou? Hoje a pornografia é aceita socialmente?
Gail Dines - A introdução da internet mudou a indústria pornográfica. Ela a trouxe do submundo para a nossa casa e, uma vez que a pornografia se tornou tão acessível e barata, os homens passaram a usa-la em grandes quantidades. Conforme essa indústria crescia em volume, ela evoluía para um negócio com considerável respaldo político e foi se tornando socialmente mais aceitável. A indústria pornô tem capacidade de fazer lobby com políticos, de travar batalhas legais e de usar relações públicas para influenciar o debate. Essa não é uma simples questão de escolha do consumidor, sua sofisticada e bem financiada máquina de marketing busca moldar a imagem dessa indústria como algo positivo. Quanto mais positiva essa imagem, maior a chance de a indústria se tornar parte do mainstream.

Que consequências isso traz?
Conforme a pornografia se populariza, ela molda nossa sexualidade e identidade sexual. Isso é muito problemático porque a maioria da pornografia que circula na internet envolve sexo com punição ao corpo, onde as mulheres são humilhadas e desumanizadas. Os garotos veem pornografia pela primeira vez aos 11 anos, eles são introduzidos a esse mundo de brutalidade sexual e crueldade antes que sua sexualidade esteja plenamente desenvolvida. Quanto mais esses meninos virem pornografia, mais suas ideias sobre sexo serão distorcidas. Há poucas imagens alternativas de sexo. Como um garoto pode conhecer situações onde a sexualidade é baseada em igualdade e respeito?

Por que você acredita que a pornografia estimula a violência contra as mulheres?
A pornografia cria um mundo onde a brutalidade sexual é legitimada e até celebrada. Nesse mundo, não importa quão cruelmente você trata uma mulher, ela ama e implora por mais. Em nenhum momento diz não. Ela está sempre disponível para qualquer homem e fará o que ele quiser. As mulheres existem para serem usadas e abusadas e depois jogadas fora porque há muito mais de onde elas vieram. É um mundo sem empatia, compaixão, conexão ou intimidade. Ao invés de fazer amor, homens fazem ódio com os corpos das mulheres - enquanto ele a penetra brutalmente, a chama de nomes vis e demonstra nada além de ódio, desprezo e nojo.
Como alguém que estuda mídia, eu sei o poder das imagens. Todos nós construímos nossas identidades a partir das normas e valores da cultura onde vivemos e as imagens pornográficas formam uma grande parte da cultura de hoje. É impossível ver essas imagens sem ser mudado, especialmente imagens com as quais você se masturba. Isso não significa que homens que assistem filmes pornôs irão violentar uma mulher, mas significa que, em algum nível e de alguma maneira, essas imagens afetarão a maneira como eles pensam sobre sexo, sexualidade e relacionamentos.
Os homens que eu entrevistei acreditavam que sexo pornô era o que as mulheres queriam e ficavam angustiados e nervosos quando sua parceira se recusava a se parecer ou a se comportar como sua estrela pornô favorita. As mulheres comumente recusam-se a praticar atos que os homens rotineiramente gostam de assistir e, perto dos orgasmos escandalosos e ginásticas sexuais do sexo pornô, sexo com mulheres reais começa a parecer tedioso e insosso. Esses homens se acostumaram tanto com a pornografia que começam a se desapontar com suas próprias performances. Quando eles se comparam com os atores pornôs, que mantém ereções fortificadas com Viagra por longos períodos de tempo, eles começam a se sentir perdedores em sua vida sexual e se perguntam se há algo errado com eles.

As mulheres são as únicas afetadas pelos efeitos da pornografia?
Homens e mulheres são afetados. Alguns homens desenvolvem um vício em pornografia que pode facilmente destruir suas vidas. Conversei com alguns viciados que cursavam o ensino superior, eles corriam sérios riscos: negligenciaram seus trabalhos de faculdade, gastavam grandes quantidade de dinheiro que não possuiam, se isolavam dos outros e sofriam de depressão. Eles sabem que há algo errado, se sentem descontrolados e não sabem como parar.
Já as estudantes me contam que se sentem pressionadas a se conformar a agir e se parecer como uma estrela pornô. Um exemplo do poder dessa cultura é como os homens desejam que as suas namoradas depilem seus pelos pubianos. Como os homens se masturbam com as imagens de mulheres sem pelos, alguns sentem repulsa e até preferem não transar se suas namoradas não depilarem. Algumas mulheres falam de ter que fazer 'sexo-pornô' para manterem seus parceiros interessados e isso significa concordar com atos com os quais elas não se sentem confortáveis. A pornografia dá às mulheres uma imagem distorcida do sexo e elas acham que algo está errado com elas por não responderem como as mulheres nos filmes. É claro que as estrelas pornôs estão sendo pagas para parecerem excitadas, mas muitas pessoas acham que a pornografia é uma reflexão da realidade ao invés de uma imagem cuidadosamente construída.
Algumas mulheres me dizem que quando seus parceiros veem pornografia se sentem deslocadas e traídas e se perguntam por que não são suficientes e porque seu parceiro não está satisfeito com a vida sexual do casal.

Pode existir um tipo de pornografia "saudável"?
A pornografia é baseada na degradação da mulher, então não. Eu não acredito que possa haver qualquer imagem de uma mulher sendo degradada que possa contribuir para uma sexualidade saudável. No entanto, eu acho que há uma necessidade de um contra-ataque erótico à cultura pornô. O erotismo, ao contrário do pornô, celebra uma sexualidade igualitária e respeitadora, baseada em conexão e paixão.

A liberação sexual e social feminina não contribuiu para mudar essa situação?
O grupo responsável pela cultura pornográfica de hoje são os pornógrafos. Eles são os que trouxeram isso e eles cooptaram os movimentos das mulheres por liberação sexual. As mulheres dos movimentos dos anos 60 e 70 lutaram para erradicar a ideia sexista de que boas garotas não gostavam de sexo e não faziam sexo fora do casamento. O que nós queríamos era aproveitar o sexo nos nossos termos e o que nós tivemos foi uma sexualidade pornográfica, plastificada e genérica que foi criada por uma indústria predatória cujo objetivo é maximizar lucros, não nos liberar sexualmente.
É um erro pensar que as feministas de 60 e 70 são responsáveis. O problemas é que as feministas de hoje capitularam ao invés de resistir à cultura pornô.
Nós precisamos construir um movimento feminista robusto que veja a pornografia pelo que é realmente: propaganda odiosa às mulheres que legitima e celebra sua posição subordinada. Nosso objetivo deveria ser erradicar essa indústria, enquanto houver pornografia nós nunca teremos completa igualdade de gênero.

Fonte: Terra Magazine

By: Claudia Sarrasí

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